Madonna e a polémica (parte 1) por André R. Costa

Quando se fala em Madonna, associa-se logo a palavra polémica. A verdade é que grande parte da imagem que Madonna passou sobretudo no início da sua carreira, esteve sempre envolvida em fortes polémicas / controvérsias, aliando a isso um combate à desmistificação de tabus.
Se no inicio a imagem “Madonna” esteve sempre muito ligada ao sexo, pouco a pouco a politização da sua imagem foi crescendo, chegando a inserir as sua opiniões políticas nos vários tours.
Como dito anteriormente, o sexo sempre esteve ligado à imagem de Madonna. A verdade é que, essa imagem de certa forma chocante, permitiu-lhe adquirir uma projecção mediática muito forte no início da carreira, sobretudo na sequência da sua prestação MTV onde Madonna, vestida de noiva, cantou “Like a Virgin”, reproduzindo movimentos e gestos algo “chocantes”, na opinião de muitos, para a altura. Contudo a verdade é que este episódio, teve o efeito pretendido e ao outro dia da sua prestação, todo o mundo discutia o momento em todo o lado.


Tempos mais tardes a religião veio juntar-se ao sexo: em “Like a Prayer” Madonna beija um santo negro, pretendendo criticar deste modo a pouca abertura da religião católica assim como as suas ideias conservadoras. Claro, toda a comunidade católica condenou o vídeo, contudo, com mais essa ajuda, a controvérsia teve mais uma vez sucesso: Madonna continuava na boca de todo o mundo.


A década de 90 inicia-se com um dos períodos mais “sexuais” de Madonna: o álbum “Erótica” sai, e o clipe que acompanha o single de estreia também.

O vídeo, representando momentos de intimidade bastante explícitos, mostrando quase momentos sexuais, foi quase censurado pelas televisões, chegando a ser classificado como “hard”, sendo exibido só depois da meia-noite pela MTV.


Nesta altura Madonna lança o livro “Sex” onde pousa nua em variadas fotos. A ideia da mulher dominadora, quase Sado, leva a que este período seja um dos mais chocantes do ícon, sendo criticado por muitos, e percebida por outros. A verdade, é que através deste período mais “hard” Madonna simplesmente tentou desmistificar o tabu do sexo, aliando a este a defesa do papel da mulher na sociedade.


No “Blond Ambition Tour”, Madonna e o seu aspecto “hard” retomam forma, no final da actuação de “Like a Virgin” Madonna simula um orgasmo, chocando centenas de pessoas. Em certos países, o concerto teve a ameaça de cancelamento devido ao “atentado a pudor” que algumas facções da sociedade defendiam. Madonna continuou, não cedeu às pressões. Esta actuação é já hoje considerado como um clássico na carreira de Madonna.


Criticada como nunca, Madonna riposta, e lança “Human Nature”, onde defende, na linha do single “Express Yourself”, a ideia da necessidade de criticar. Para Madonna, é preciso falar, manifestar a sua opinião mesmo que esta não agrade. Pior que criticar é ficar passivo perante as situações mais absurdas: desrespeito pelos outros, racismo, xenofobia, homofobia…


Nessa linha, Madonna sempre defendeu os homossexuais, incitando-os a mostrarem-se a não terem vergonha de se assumirem publicamente; ajudando deste modo, à mudança de mentalidades. Isso fez de Madonna, um ícon da comunidade homossexual, já que vêem nela, uma grande defensora das suas causas. Muitos poderão perguntar: será que este não será mais um golpe de marketing de Madonna, atraindo para si uma comunidade muitas vezes desprezada?
A polémica continua, nas gravações de Evita; Madonna foi escolhida para representar a célebre Evita Perón, contudo muitos Argentinos acharam de mau gosto, a escolha da actriz, já que não consideravam que Madonna – célebre pelas suas opiniões, aparições chocantes, ligação ao sexo, seria de facto uma digna representadora de uma das mais adoradas personagens argentinas. Algumas manifestações de protesto ocorreram em partes de Argentina, obrigando Madonna, a justificar o seu papel, e separando as águas, entre o seu passado mais chocante, e o seu novo desafio como actriz. Mais uma vez, Madonna estava no centro da actualidade, publicitando mais uma vez gratuitamente a sua imagem. A verdade é que com Evita, Madonna ganho um grammy para melhor actriz, e a banda sonora do filme foi um dos maiores sucessos de 1994 - não esquecendo as célebres músicas: Dont Cry For Me Argentina, e You Must Love Me (premiada com um Óscar para melhor música).


O período materno, apresenta-nos uma Madonna mais calma, madura, contudo sempre provocante e diferente: aparece-nos então um novo conceito ligado à imagem de Madonna –a Kaballah. “Frozen” pode ser considerado como a música inaugural deste novo período. Pela primeira vez, o sexo, a escândalo é posto de lado. O seu novo ar gótico, sombrio, apanha o mundo de surpresa. Onde estará a Madonna do “Like a Virgin”?


Esta Madonna reaparece tempos depois, com o lançamento de “American Life”. Assistimos então à nova faceta de Madonna – a política. Em “American Life” Madonna propõe-se a criticar e a rejeitar as novas ideias da administração Bush, e do seu país. O vídeo-clipe para o primeiro single, com o mesmo nome do álbum, foi mesmo auto-censurado pela cantora, considerando que este não respeitava o sofrimento das famílias que tinham sido directamente afectadas pela guerra do Iraque. O vídeo, critica a visão, e o apoio do povo e dos governos à invasão do Iraque; interpretando a guerra como um espectáculo, ao qual os grandes senhores assistem calmamente sem nada fazer. Durante o clip, os militares vão desfilando na passerelle, até chegar o ponto mais polémico do vídeo: tropas feridas, sem pernas, braços, a rastejarem pelo chão; imagens de bombas, sofrimento, enquanto que a plateia dos grandes senhores continua divertida assistindo à cena… Madonna com este vídeo veio criticar fortemente a visão, e a incapacidade das pessoas tomarem uma atitude de revolta perante este cenário desolador.


American Life continua envolto em polémica com o vídeo “Hollywood”, em que Madonna critica a vida fácil, banal, sem interesse das estrelas de Hollywood; aliando a este as cirurgias plásticas (Madonna aparece, levando uma injecção de botox durante o clipe). O culminar do período “American Life” aparece-nos em 2003 mais uma vez na cerimonia MTV em que Madonna, durante uma actuação com Britney Spears e Cristina Aguilera, beija as duas cantoras na boca, causando logo no dia seguinte uma verdadeira bomba noticiosa em todo o mundo. Madonna não pára, Madonna continua a ser notícia, usando a provocação.





A tournée Re-Invention, também é de alguma forma politizada, com a actuação de “American Life”, assistindo a uma performance baseada no ideal geral do primeiro clip realizado para a canção. Em “Lament” Madonna critica mais uma vez a posição do seu país face à pena de morte, cantando este tema, sentada em cima de uma réplica de cadeira eléctrica. Mais uma vez, a provocação; a crítica, a ideia de “Express Yourself” dá os seus frutos.


A Segunda Parte chega em Dezembro!

André R. Costa